sexta-feira, fevereiro 17, 2017

A FLOR DO PRINCIPEZINHO

 

No asteróide do principezinho havia embondeiros, três vulcões e uma flor com quatro espinhos.

«Nunca lhe devia ter dados ouvidos», dizia ele sobre a flor, para logo continuar: «Nunca se deve dar ouvidos às flores. Deve-se é olhar para elas e cheirá-las. A minha, perfumava-me o planeta todo, mas eu não era capaz de dar valor a isso.»
Sim, é certo que há flores com espinhos, mas o pior que pode acontecer é não se chegar a cheirá-las, belas e assustadoras que tantas vezes se apresentam. E acrescentava: «Não fui capaz de entender nada. Devia tê-la avaliado não pelas suas palavras, mas pelos seus actos. Ela perfumava-me e dava-me luz! Eu nunca devia ter fugido! Devia ter sido capaz de perceber toda a ternura escondida naquelas suas pobres manhas. As flores são tão contraditórias! Mas eu era novo de mais para saber amar.»
O principezinho fugiu por não saber amar. Esta não parece ser uma história para crianças e, no entanto, como tal foi recebida em Nova Iorque naquele ano de 1943, quando não se sabia bem para que lado das trincheiras cairia o vasto planeta chamado Terra, mundo infinitamente maior e mais complicado que o asteróide dos embondeiros, dos três vulcões e da flor com quatro espinhos.
José Régio chamou ao seu livro O Príncipe com Orelhas de Burro uma história para crianças grandes. O Principezinho, para além de interessar aos mais pequenos, é uma história para homens que não perderam a memória de terem sido crianças, ou, de outra forma, para a criança que há dentro de cada homem, assim sejam eles capazes de a encontrar.
Na Terra, o principezinho viu campos com milhares de rosas e compreendeu que nenhuma se comparava à sua flor de quatro espinhos. Às vezes acontece compreender-se demasiado tarde o que está mesmo diante dos olhos.



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