terça-feira, setembro 23, 2014

O AMOR É SIMPLES

Numa carta de Eça de Queiroz para Ramalho Ortigão, datada de Londres, 14 de Outubro de 1885, o nosso cônsul comunicava ao bom amigo e companheiro de letras o seu casamento com Emília Rezende:
«Este casamento, e a séria e grave afeição que o produz, é tão simples que não tem história.» Uma boa maneira de abordar o assunto, não haja dúvida, mas o melhor vem depois: «O único lado pitoresco (…) é que, quando a Emília e eu estávamos constantemente juntos, na longa intimidade de três meses, falávamos de livros, de cozinha, do que dizia o “Ilustrado”, um pouco de religião, muito das senhoras da Granja, de arte, de cães, da cultura da beterraba e uma ou outra vez do Fontes.» Conversas de praia, é claro. E continua: «E foi quando nos separámos” – as férias de Verão, Setembro dentro, teriam entretanto acabado – «que, de repente, batendo cada um por seu lado na testa, exclamámos a toda esta distância: – É verdade, esqueceu-nos de dizer que devíamos unir os nossos destinos!» Muitas vezes as coisas acontecem assim, há uns esquecimentos, mas acaba tudo em bem… E remata: « É este o único lado pitoresco. O resto é um pouco terre-à-terre, não vale de modo nenhum o esplendor lírico de Romeu and Juliet e não podia ser posto em árias pelo lânguido Gounod.»
Perfeito! Ficamos mais confortados: as coisas, às vezes, não são tão complicadas como nós a fazemos.

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