quinta-feira, abril 17, 2014

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL


Perdemo-nos de nós como se o não soubéssemos,
logo agora  que as cerejeiras estão em flor
e as tardes flamejam de luz nos vitrais do tempo.
Falam-me de ti muitos dos livros que leio,
alguns filmes, palavras  com que diariamente
me deito a pensar  no perfume de maçãs do teu corpo
naquela noite em que nos vimos pela última vez.
Aceitemos as coisas  tal como são, não há hora
nem distância que valham o pulsar dum poema.
Ainda bem termos ficado por aí, entre o tudo
e o nada, no esquecimento recíproco, seixos lívidos
sob o tumulto do rio da vida, abraçados
a uma morte terna e desejável,
única mãe de que legitimamente renasceremos.
 

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