terça-feira, fevereiro 04, 2014

CADAVRE EXQUIS A SOLO


E entre a vigília e o repouso, quando a razão se lhe nublasse levemente, abertos ainda os olhos ou semicerrados, mas pesados, extáticos, imóveis, no escuro, então com ele, com o vento, viriam os fantasmas.
Primeiro foi o gato. Era cinzento e verde, mas com listas perfeitas e sedosas quais as dos tigres, mais intensas ainda, quase tão vivas como a plumagem de uma ave exótica. (…)
Apareceu depois o homem que ria. Tinha um riso azul na face, um grande riso cómico e medonho. (…)
Entretanto, surgia, mas sempre rápido, fugidiço, evanescente, o homem pássaro, sem rosto (…)
Por fim, a mulher informe, mais do que nunca encoberta, naquela noite, em seus véus de rosa-pálido.
URBANO TAVARES RODRIGUES, Bastardos do Sol, Amadora, Livraria Bertrand, 3ª edição revista, s/d, pp. 121 e 122.
 CÂNDIDO COSTA PINTO, Amor hiante (1942), Museu do Chiado - MNAC
ANTÓNIO DACOSTA, Episódio com um cão (1941), Museu do Chiado - MNAC

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