terça-feira, setembro 10, 2013

ESCREVER NA NOITE

Diz-se que havia em Alexandria, na célebre biblioteca destruída por um incêndio já não sei bem em que século, um pergaminho versando em tratado as patologias do amor e, o que é mais surpreendente, prescrevendo  remédios para tão insidiosos males.  
Borges, o argentino, terá tido uma visão fugaz do misterioso rolo  ao contemplar, numa dobra do tempo de Deus, o Aleph da cave da Rua Garay  de Buenos Aires.
Um pouco mais para trás, um mensageiro  que veio anunciar o Quinto Império à corte de D. João V, por isso mesmo relaxado em carne, depois de torturado  e obrigado a falar pelos esbirros da Santa Inquisição, trouxe notícia do documento, salvo das chamas por um poeta neotérico cujo nome se perdeu na voragem dos séculos.
Ninguém levou a sério o mensageiro, o que acho natural.  
Por mim, ainda não desisti  de o encontrar, mas desiludam-se os ingénuos: só me move a vaidade intelectual da pesquisa, pois há muito que deixei de acreditar no amor.

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