domingo, agosto 12, 2012

REINALDO FERREIRA (1922-1959)


Se eu nunca disse que os teus dentes
Se eu nunca disse que os teus dentes
São pérolas,
É porque são dentes.
Se eu nunca disse que os teus lábios
São corais,
É porque são lábios.
Se eu nunca disse que os teus olhos
São d'ónix, ou esmeralda, ou safira,
É porque são olhos.
Pérolas e ónix e corais são coisas,
E coisas não sublimam coisas.
Eu, se algum dia com lugares-comuns
Houvesse de louvar-te,
Decerto que buscava na poesia,
Na paisagem, na música,
Imagens transcendentes
Dos olhos e dos lábios e dos dentes.
Mas crê, sinceramente crê, 
Que todas as metáforas são pouco 
Para dizer o que eu vejo. 
E vejo lábios, olhos, dentes. 

(Poemas, 2ª edição, Lisboa, Portugália Editora, 1962, com um estudo de José Régio)

2 comentários:

Joca disse...

Ora aqui está um escritor a relembrar e explorar! Há que tempos que não o lia. Obrigada.

Manuel Nunes disse...

O exemplar do livro que aqui cito compreio-o na cidade da Beira (Moçambique) na era de 1972. Tenho-lhe grande afecto, e por acaso não está comigo, encontrando-se emprestado a uma certa pessoa que, mais por desleixo meu, tem tardado em devolver-mo.