Palimpsesto é, segundo o dicionário
Houaiss, um “papiro ou pergaminho cujo texto primitivo foi raspado para dar
lugar a outro.”
O conceito liga-se em literatura ao
de intertextualidade, a possibilidade infinita de os textos dialogarem com
outros textos. Escreveu Fernando Pessoa/Ricardo Reis: “Deve haver, no mais
pequeno poema de um poeta, qualquer coisa por onde se note que existiu Homero.”
Fedra de
Racine é um desses pergaminhos em
que se escreveu sobre textos “raspados” de Eurípedes, Sófocles, Séneca e de
toda a vasta tradição oral dos antiquíssimos mitos.
Se Thomas de Quincey via o cérebro
humano como um palimpsesto (sobreposição de inumeráveis camadas de ideias,
imagens e sentimentos), Baudelaire apontava nos Paraísos Artificiais a diferença entre este palimpsesto da criação
divina e o literário: o caos fantástico e grotesco do primeiro face à
fatalidade artística e harmoniosa do segundo.