sexta-feira, março 09, 2012

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL (8)

Conheço todas as palavras das cartas
que não me escreveste. Palavras cheias,  
tão copiosas que mal caberiam
dentro dos livros que levaste de casa,
ou dos cadernos dos tempos da escola
de que te esqueceste,  talvez por já nada
dizerem de ti nem serem capazes de falar
dos teus novos sonhos. Encontro  essas
palavras em cada verso que faço, em cada
linha que imagino escrever-te, e sinto-as
queimarem-me os olhos e ferirem-me
os dedos: palavras aparentes que fustigam
e doem, pássaros roxos voando em sombra
sobre as searas descontentes.

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