terça-feira, fevereiro 28, 2012

CANCIONEIRO DE JOSÉ RAFAEL (4)


Falo de um livro em que escrevi
as palavras pinheiro, resina, agulha.
Um livro com uma dedicatória
de quando o teu ventre era vagem
e os teus seios breves pomos.
Falo de um livro antigo
como os que inventaram
a palavra pão ou a palavra amor.
Um livro que percorreu a memória
e os hexágonos do tempo
por entre desencanto e traição:
uma ferida e cicatriz de lume
(ajeno de placer y de contento)
na minha pele de bibliotecário cego.

Nota:
A palavra “ferida”, no décimo segundo verso do soneto monóstrofo, encontra-se no manuscrito  como “herida”. Tratando-se de um possível lapso,  adoptámos a correspondente expressão portuguesa. Já de mais problemática compreensão (ou talvez não)  é a inclusão parentética do verso castelhano que julgamos pertencer a San Juan de la Cruz.  

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