domingo, agosto 21, 2011

AS "CONFISSÕES" DE ROUSSEAU

Do preâmbulo do autor: Este é o único retrato de homem, pintado exactamente segundo o natural e em toda a sua verdade, que existe e que provavelmente existirá jamais.
Do início do Livro Primeiro: Eis aqui o que fiz, o que pensei, aquilo que fui. Falei, com igual franqueza, do bem e do mal. Nada calei de mau, nada acrescentei de bom, e, se me aconteceu empregar qualquer insignificante adorno, foi tão-somente para tapar uma lacuna motivada pela minha falta de memória; posso ter tomado como verdadeiro o que sabia havê-lo podido ser, nunca o que sabia ser falso.
Estes excertos das Confissões remetem-nos para três perspectivas teóricas sobre a autobiografia: 1ª. A de que a autobiografia, como documento, é referencial: há um sujeito que precede a escrita; 2ª. A de que o autobiógrafo, embora querendo dizer a verdade, não está imune aos desvios da memória, aos impulsos do inconsciente e ao desejo de construir um mito pessoal; 3ª. A de que a escrita não pode narrar a vida de ninguém, partindo da ilusão referencial para sempre chegar à ficção; assim, a escrita autobiográfica não reproduz o sujeito, este é que se cria através da escrita.

1 comentário:

João António disse...

O facto de falarmos sobre autobiografia, os considerandos que aqui capto, aguçam a percepção sobre a realidade que suponho, toda ela é autobiográfica.