quinta-feira, março 16, 2006

PINTAR A ALMA



Que há de comum nestes dois retratos?

Um, de D. Sebastião, é obra de Cristóvão de Morais com data de 1571. O outro, de Antero de Quental, é de Columbano Bordalo Pinheiro e foi pintado em 1889. Três séculos separam a factura das duas obras: do período maneirista ao naturalismo do século XIX. Mas o que de certa forma as unifica é o poder que ambas demonstram de, através dos olhos, revelarem a alma dos retratados.

Do jovem D. Sebastião fica-nos esse sentimento de grande vingador e defensor da Cristandade, o olhar insolentemente belo e desafiador, sonhador de heroísmos e feitos cavaleirescos. De Antero de Quental, a imagem de um velho lutador à beira da desistência, o desespero por um país que recusava modernizar-se, ele que fora a figura mais luminosa da Geração de 70 e lucidamente identificara nas Conferências do Casino as causas da decadência dos povos peninsulares.

Sempre se soube ler nos olhos das pessoas. Com a arte dos grandes mestres também é possível ler nos olhos dos retratos.

D.E.

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